Nos últimos anos, boa parte dos cristãos brasileiros tem sucumbido a uma subcultura gospelenta e nociva para a alma. Tragicamente, já é quase natural para essas pessoas conservarem uma espiritualidade estribada nos desejos e anseios materialistas, onde a busca de soluções para as suas dificuldades sócio-econômicas tornam-se prioridades máximas na vida. A partir desse modo de vida forçosamente cristianizado, surge sutilmente das trevas a figura de um ídolo quase que imperceptível, personificado na mercadoria, um objeto de desejo daqueles que buscam a satisfação imediata do corpo – da realização de todos os seus desejos temporais. Esse ídolo se entronizou no coração de muitos crentes. E a devoção ao mesmo é chamada na bíblia sagrada de avareza ou ganância, uma prática que míngua a fé até dos mais destacados servos de Deus.

Essa religiosidade que paira sobre mentes e corações dessa cristandade evangélica brasileira é caracterizada principalmente pela busca da prosperidade financeira, saúde, bem-estar etc. É a valorização do “ter” em contraposição do “ser”. Atitudes essas em que tais pessoas se preocupam mais com a “benção” do que com o “abençoador”. Claro, não quero e nem posso generalizar, pois sem dúvida tem muitos joelhos que não se dobraram para Mamom. No entanto, a inspirada recomendação do apóstolo Paulo à igreja de Colossos é válida para todos atualmente e diz o seguinte: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria, Colossenses 3.5 (NVI)”. Esta Palavra quando crida e obedecida resultará em segurança espiritual para aqueles que desejam viver piedosamente.

Infelizmente, acredito também que as inúmeras dificuldades e injustiças sociais profundamente enraizadas na nossa população têm contribuído para o florescimento de uma espiritualidade fria e mercantilizada. O pior de tudo, é que esse problema social também é acrescido do egoísmo e das ambições inerentes da natureza humana. E tudo isso tem sido um terreno fértil para o surgimento de uma religiosidade/espiritualidade construída em cima do trinômio antropocentrismo – hedonismo – consumismo, levando parte da igreja evangélica brasileira, a vivenciar e propagar a mundanização do santo evangelho para proveito pessoal.

O resultado de toda essa miscelânea de práticas travestida de devoção religiosa foi o aparecimento em todas as partes de várias denominações, das quais a maioria são conhecidas também pelo termo neopentecostais, cujas realizações refletem ações do sistema capitalista de mercado, em especial a Lei da Oferta e Procura responsável por estabelecer e determinar o relacionamento entre a procura por um certo tipo de produto e a quantidade oferecida do mesmo. E, o mais duro de tudo isso, é que os responsáveis diretamente por esses movimentos não serão os únicos responsabilizados ante o juízo de Deus, mas as próprias pessoas que buscam saciar a sua fome nesse mercado da fé. Pois, em certo sentido, o mercantilismo religioso existe por causa dos clientes que procuram, consomem e sustentam esse “comércio sagrado”. Sobre isto a Palavra de Deus alerta-nos: “E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita, 2 Pedro 2.2,3”.