A Contextualização do Evangelho além de ser uma imprescindível tarefa para a igreja atual é uma prática que possui pleno respaldo na Bíblia Sagrada. Com isso, quero adiantar aqui que Contextualizar o Evangelho não é distorcê-lo ou submetê-lo aos caprichos de uma cultura. Ao contrário, Contextualizar a Mensagem da Cruz significa transmitir fielmente as verdades da Palavra de Deus de forma relevante e inteligível para os diferentes contextos. Com base nessa verdade o teólogo René Padilla diz que a encarnação do Filho de Deus no mundo, entre os homens, poderia ser ensinada como o momento em que Deus se contextualizou em Jesus Cristo. Entende-se que Jesus tornou-se um ser humano para comunicar aos homens as boas novas de salvação. Lucas escreve: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens, Lucas 2.52”. Jesus se inseriu na cultura como todos os judeus da sua época para tornar sua mensagem conhecida e eficaz para salvação de todas as pessoas.  “Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo, Hebreus 2.17”. Desta forma, considero ser a contextualização do evangelho uma necessidade nesse tempo de modernidade em que vivemos, pois somente assim haverá resultados satisfatórios na evangelização e discipulado de novos convertidos.

O livro de Atos dos Apóstolos relata um conflito gerado pela tentativa de se impor uma cultura sobre a outra. Os judeus da época de Paulo consideravam sua cultura sócio-religiosa superior a qualquer outra cultura existente no tempo deles. Desta forma, assim que a igreja começou a crescer e a se expandir no primeiro século para terras além de Jerusalém, não demorou muito para que os judaizantes buscassem impor sobre cristãos gentios suas práticas e costumes como requisitos para a salvação que iria além do evangelho de Jesus. Um exemplo disso era os cristãos judeus que queriam obrigar os gentios convertidos a se circuncidarem também, bem como a guardar “dias, e meses, e tempos, e anos”. Contra essa atitude o apóstolo Paulo lutou bravamente, levando o caso à igreja mãe em Jerusalém. O capítulo 15 de Atos dos Apóstolo relata esse episódio. Ali, congregados os apóstolos e os anciãos para considerarem sobre este importante assunto, decidiram não impor nada sobre os gentios, apenas lhes recomendaram que não se contaminassem com os ídolos, com a prostituição nem consumisse sangue sufocado. Com isso, a santidade e a fidelidade do Evangelho foram mantidas para os gentios sem a necessidade de lhes impor uma outra cultura ou costumes.

Tenho observado em muitas igrejas, especialmente em minha região, que a conscientização sobre a Contextualização do Evangelho tem sido aprendida algumas vezes de forma lenta e equivocada. Sou da Assembleia de Deus, uma denominação pentecostal que inicialmente não soube fazer distinção entre o que era moderno e o que era pecaminoso. Nesse sentido, acabamos inserindo em nossos costumes certa rigidez como, aversão por esportes e manifestação cultural, bem como o surgimento no decorrer dos anos de inúmeras proibições e padronização na forma de se vestir, especialmente para as mulheres. Contudo, estou feliz porque depois de 100 anos de fundação muitas coisas vem se acertando. E, espero que a cada dia possamos aprender cada vez mais a nos tornar uma igreja relevante para uma sociedade cada dia mais relativista e pós-moderna como a nossa.