A interpretação de que a referida passagem endossa a prática do comunismo primitivo por parte da igreja cristã do primeiro século está totalmente equivocada, pois o conteúdo desta porção das Escrituras não dá margem para esse pensamento. Normalmente, interpretações incorretas como esta ocorre quando o interprete isola o texto do seu contexto, o que é uma falta grave para aquele que se coloca a praticar uma verdadeira exegese bíblica. Portanto, a regra violada aqui, foi o principio de que As Escrituras Interpretam as Escrituras, pois entender que este texto bíblico é um incentivo à pratica do comunismo não está consistente com o ensino da totalidade das Escrituras.

Tendo em vista que o comunismo é uma estrutura socioeconômica baseada na propriedade comum e no controle da propriedade de cidadãos em geral por parte de lideranças ou governos, é impossível que a igreja cristã praticasse um comunismo primitivo. Pois, apesar da igreja primitiva entregar seus bens e propriedades para que fossem repartidos por toda comunidade, tudo isso era feito sem obrigatoriedade, mas por voluntariedade. Esse entendimento fica mais claro, quando recorremos ao contexto imediato da referida passagem, neste caso, seria o próximo parágrafo, onde lemos em Atos 5.4 Pedro dizendo para Ananias que o dinheiro da propriedade que ele havia vendido poderia ter guardado tudo para ele e sua esposa, ao invés de ter mentido ao Espírito de Deus, dizendo que estava dando todo dinheiro da venda ao apóstolo.

Em seu artigo intitulado As Causas da Pobreza, Gary DeMar (apud J. A. Alexander, The Acts of the Apostles, Volume 1, p. 185) compartilha deste mesmo ponto de vista ao afirmar que a “A comunidade de bens, descrita em Atos 4:32-37, não era um regulamento social ou um artigo da política da igreja primitiva, mas a execução natural e necessária do princípio de unidade, ou identidade de interesse entre os membros do corpo de Cristo, surgindo da relação de união deles com o próprio Cristo”.